Gerês com História

É provável que o nome “Gerês”, derive do nome latino Jeressus e que o mesmo tenha sido batizado pelos romanos devido à semelhança com os montes Jura, conhecidos por eles quando atravessavam a Gália (França), a caminho da Península Ibérica.

A história da povoação do Gerês é relativamente recente, apesar das águas terem sido aproveitadas desde a altura dos romanos, como comprovam o achado de moedas romanas dos imperadores Gallienus e Constancius encontradas no local das escavações para a construção do balneário, no ano de 1897, bem como pelos reinados de D. Afonso III, D. João I, D. Duarte, D. João V e D. João II.

No reinado de  D. João V houve um grande desenvolvimento do lugar do Gerês, talvez pelo interesse do rei pelas águas, tendo mandado construir um hospital (que não chegou a erguer-se), a residência para o médico, o boticário, os poços para os banhos termais (Forte, Contra-Forte, Águas Novas, Figueira, Fígado e Bica) e  a capela de Santa Eufémia (1733).

Segundo as investigações do Dr. Ricardo Jorge (1858-1939), teria sido por volta do ano 1699, depois das propriedades terapêuticas das águas terem sido descobertas, por Manuel Ferreira de Azevedo, cirurgião de Covide, que se teria dado o início ao funcionamento normal das termas, mesmo que estival. Foi muito devido à investigação, publicações sobre as Caldas do Gerês e publicitação das mesmas pelo Dr. Ricardo Jorge que o interesse e afluência se fez sentir no Gerês, nos finais do séc. XIX e inícios do séc. XX.

O seu interesse pelas Caldas foi tão grande que procurou obter a concessão oficial do Gerês, tendo-se, para tal, associado a outras figuras da época para angariação de capitais, apresentando, em 20 de Junho de 1887, requerimento para exploração das termas. Com algumas vicissitudes, o contrato definitivo foi assinado em 16 de setembro de 1889. O Dr. Ricardo Jorge ficou com 33% das ações da Companhia das Caldas do Gerês e foi nomeado Diretor-Gerente da empresa, bem como médico contratado. Foi assim que o Dr. Ricardo Jorge efetuou pesquisas mais aprofundadas e publicou trabalhos sobre a hidrologia portuguesa do mais alto valor científico. Como gestor da empresa “Companhia das Caldas do Gerez”, o Dr. Ricardo Jorge fracassou, tendo aberto falência da mesma em 1893. Em 1894 foi publicado um decreto de rescisão do contrato, devido ao não cumprimento, por parte da empresa, das regras de concessão ao qual se seguiu um longo processo na justiça.

Com a crescente procura das águas termais, no ano de 1884, radicaram-se nas Caldas algumas famílias (Botequim, Rigor, Banheiro, Frutuoso, Francisco José da Silva e Rosa Maria Martins, etc.) que seriam os primeiros habitantes permanentes do lugar do Gerês.

Foi, também, nesta altura que começaram a ser construídos os hotéis no então lugar do Gerês, tendo sido o Hotel Ribeiro o primeiro a ser construído. No início do séc. XX, existiam já mais 7 hotéis (Hotel do Parque, Hotel Araújo, hoje Hotel Termas, Hotel Universal, Hotel Anselmo ou Internacional, Hotel Maia, hoje Hotel das Águas do Gerês, Hotel Jardim e Hotel Dois Amigos).

Durante o século XX, o Gerês esteve sempre em franco crescimento, quer ao nível de construções de pensões e alojamento particular, bem como ao nível de população, tendo mesmo sido equacionada a hipótese de criação do Concelho Autónomo do Gerês, no início desse mesmo século.

Os anos de 1940 foram de muita animação cultural para o Gerês na sua época termal, pois aí existia casino com música; cinema e teatro, que funcionavam no Hotel Moderno (sofreu um grande incêndio); campo de ténis; piscina e campo de patinagem.

A povoação do Gerês foi elevada a vila, pela Lei nº 96/91, de 16 de Agosto e pertence ao concelho de Terras de Bouro.

Armas do Gerês

Bica termal – Aegri surgunt sani (os doentes saem sãos).
Lírio-do-Gerês (Iris boissieri),  é uma das plantas mais belas e raras da Península Ibérica cuja floração acontece na serra durante o mês de Junho.
Cabra do Gerês – ou cabra montês, foi extinta no final do século XIX, mas no ano 1999, algumas espécimes criadas em cativeiro foram cedidas gentilmente pelo país vizinho e postas na serra. A partir daí, esta espécie tem vindo a crescer, na serra amarela e na linha de fronteira da serra que divide os dois países.

Banco do Ramalho

O Parque da Assureira era um dos locais prediletos de Ramalho Ortigão, motivo pelo qual este parque foi escolhido para que fosse, aí, colocado um banco em homenagem ao escritor em 1920.

O mesmo localiza-se no sítio onde o escritor se sentava a contemplar o vale do rio Gerês e onde muitos dos seus escritos foram realizados/idealizados.

A ideia desta homenagem deve-se à Sociedade de Propaganda de Portugal, com a assinatura do arquiteto Raúl Lino.

Vasco Leónidas (1919 – 2005)

Foi Secretário de Estado da Agricultura de 1969 a 1972 tendo, nessa altura, feito aprovar a Lei de Defesa e Proteção da Natureza. Criou o Serviço Nacional de Combate a Incêndios Florestais e participou, também, na criação do Parque Nacional de Peneda-Gerês instituído pelo Decreto nº 187/71, de 8 de Maio.

Placa como seguinte texto: “Que este parque constitua uma escola e um símbolo onde se aprenda na contemplação das suas belezas, quanto respeito deve merecer a preservação dos recursos naturais, de transcendente significado para o futuro do homem e da própria civilização.” Vasco Leónidas 11-10-1970.

Parque das Termas (Tude de Sousa)

O Parque é uma homenagem ao silvicultor Tude de Sousa que nasceu em Amieira, concelho de Niza (Alentejo), em 27 de janeiro de 1874 e que faleceu em 1951.

Foi regente florestal da Serra do Gerês de 1904 a 1915 e, segundo relatos, era uma pessoa íntegra de caráter, sempre com a preocupação de bem servir o país. A sua obra no Gerês foi vasta, tendo sido, sob a sua orientação, aberta a estrada florestal para a Pedra Bela. A sua cooperação na grande excursão venatória e científica, em 1908, foi fulcral para a sua realização. O seu estudo do Gerês nos seus diversos aspetos, geográfico, arqueológico, histórico e paisagístico, materializaram-se nos seus livros sobre a serra e em quarenta artigos.

O seu trabalho de reflorestação da serra e o seu empenho para com a estância termal, nomeadamente com a escolha das espécies arbóreas (exóticas de grande porte) para o parque das Termas, fizeram que em Agosto de 1927, lhe fizessem as devidas homenagens, dando o seu nome ao Parque das Termas do Gerês.

Neste parque de rara beleza encontra-se um lago com barcos de recreio e umas grutas artificiais de belo efeito.

Colunata Honório Lima

A construção deste edifício em forma semicircular, agora ex-libris da vila do Gerês, deu-se em 1926 e fazia parte das cláusulas do primeiro contrato de concessão da exploração termal, em 1896, constando que a empresa deveria destinar anualmente uma percentagem (20%) do produto dos bilhetes de águas vendidos, para as obras. O nome atual da colunata é homenagem ao portuense Eduardo Honório de Lima, gerente da Empresa das Águas do Gerês, na década de 20/30 do século passado, tendo, nessa década inaugurado esta obra, o parque das Termas e o “Bairro dos Pobres”, no lugar da Assureira.

Colunata Honório Lima

Eduardo Honório de Lima e a sua mulher, Elisa Adelaide de Bessa Peixoto, distinguiam-se pelas obras de assistência social realizadas no Gerês. Como curiosidade informamos que Eduardo Honório de Lima é bisavô de duas figuras portuenses bem conhecidas de todos: José Eduardo Lima Pinto da Costa, médico e professor universitário, o nome maior da Medicina Legal em Portugal, nascido em 03-04-1934 e do seu irmão Jorge Nuno Lima Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, nascido em 28-02-1937.

Buvete

Local de ingestão da água termal. Neste local encontra-se a legenda latina Aegri surgunt sani (os doentes saem sãos), que anteriormente se encontrava no Poço Forte (poço que continha a mais alta temperatura de todos os poços existentes no local). Aqui se curam doenças do fígado e vesícula, hipertensão, obesidade, diabetes, cálculos renais e biliares, etc.

Nas paredes, expostas, podem-se ver alguns instrumentos antigos e uma placa de homenagem com o texto: “ A empresa das águas do Gerês e todos os doentes que buscam nas suas milagrosas águas a cura que só elas podem dar, nesta simples pedra consagram, com gratidão eterna os nomes dos três maiores insignes médicos geresianos – Andrade Gramaxo, Ricardo Jorge, Augusto Santos – que notavelmente puseram o seu talento e a sua grande autoridade científica ao serviço da pátria e da humanidade. 21 Agosto 1927”

Capela de Santa Eufémia

Mandada edificar por D. João V, as suas obras decorreram entre 1730/1735 e funcionou como capela real. Sofreu obras de ampliação no ano de 1934.

Descrição: A capela tem planta retangular. Na sua fachada principal podemos admirar a empena com frontão triangular rematada por uma cruz central e dois pináculos laterais em granito. Sobre o portal principal, encontra-se o brasão real do D. João V (seu fundador), talhado também em granito, ladeado por duas volutas, acima encontra-se ainda um óculo angulado. Duas janelas gradeadas ladeiam o portal principal e dão luz natural ao interior da capela, cujo altar-mor, é proveniente da Sé Catedral do Porto. De referir que as obras de melhoramento da Capela de Santa Eufémia, ocorridas no ano de 1934, se deveram à generosidade do grande impulsionador do Gerês, Eduardo Honório de Lima.

Santa Eufémia é a padroeira da vila e a sua festa realiza-se a meados de Agosto. E existe uma lenda que a liga à serra do Gerês:

Eufémia, religiosa, apoiante de Jesus Cristo, numa altura em que esse apoio era fatal, pois na época eram os romanos que governavam, refugiara-se na serra do Gerês, para oração. Depois de a encontrarem e torturarem para a incitarem a prestar culto aos deuses pagãos, após a sua recusa, precipitaram-na do alto da montanha, no entanto, o penhasco no qual ela iria embater, milagrosamente, apenas se amolgou, segundo uns, segundo outros, vieram anjos que suspenderam o corpo, ficando intacto.

Enfurecidos com tudo isto, os seus carrascos cortaram-lhe a cabeça com uma espada e enterraram o corpo, a 13 de Abril do ano 140. O seu corpo viria a ser encontrado em 1090 por uma pastora que lhe tirou o anel que possuía, tendo a mesma, imediatamente, ficado sem fala. Foi, então, anunciado, por um anjo, que o corpo era de Santa Eufémia, tendo sido transladado para a catedral de Ourense, local onde, ainda hoje se encontram parte das suas relíquias que foram furtadas de Covide por D. Diogo Gelmires, arcerbispo de Santiago de Compostela, no séc. XII. O anel de ametista esteve, também muito tempo na catedral de Ourense, mas agora encontra-se desaparecido.

Penedo da Freira

Associado a este local temos uma lenda que nos conta que uma freira de um convento do Porto se refugiara, supostamente em finais do séc. XVIII, aqui, no Zanganho, com o seu amado (supostamente um jovem cavaleiro castelhano).

Diz-se que depois de aqui viverem o seu amor durante uns anos (não há vestígios da casa onde morariam), seguiram para Roma, onde conseguiram a permissão de casamento por parte do papa.

Aqui, existe um painel atualmente com leitura impercetível, que supostamente refere e marca o local da paixão proibida.

O Penedo da Freira é também um miradouro, do qual pode ver a vila do Gerês, e está a uma altitude de 410m.

Pensão Central Jardim

O primeiro proprietário deste edifício foi Francisco Estevão Almeida Maia que o vendeu em 1883 a dois irmãos, João Gonçalves Jardim e Álvaro Gonçalves Jardim, que o batizaram de Hotel Central Jardim.

No ano de 1930 efetuaram um contrato de arrendamento do hotel a Baltazar Domingues da Silva e passou a designar-se Pensão Central Jardim e só foi adquirido por este em 1951.

Em 1967 foi adquirido pelo seu filho Ernesto da Conceição da Silva e, em finais do séc. XX, foi comprado por Guilherme Jorge da Rocha e Silva, atual proprietário e filho de Ernesto Silva. Este edifício mantém-se, assim, na família Silva há três gerações.

Hotel da Ponte

Em finais do séc. XIX, Serafim da Silva, construiu o pequeno Hotel da Ponte.

Em meados do séc XX, João Ribeiro adquire a propriedade aos herdeiros do “Botequim”.

João Ribeiro investiu sempre no imóvel e devido à sua personalidade hospitaleira, sempre teve contato com os hóspedes como se fossem elementos da sua própria família.

Atualmente este edifício encontra-se encerrado ao público e necessita de algumas obras de reconstrução e remodelação.

Hotel das Águas do Gerês

Antigo Hotel Maia, já existente no início do séc. XX. Atualmente, propriedade e gestão da Empresa das Águas do Gerês, detentora do contrato de concessão das Águas termais e de todo o património correspondente.

O estabelecimento antigo data do final do séc. XIX. Com obras recentes, este complexo é atualmente constituído por balneário termal, recentemente reequipado e remodelado e por um moderno SPA.

Hotel Universal

O hotel Universal, um dos primeiros a ser construído no Gerês, era detentor de 100 quartos e oferecia luz elétrica no final do séc. XIX, como o refere na sua publicidade. Nessa altura pertencia à Companhia das Caldas do Gerês e a gerência era feita pelo casal Mattos.

O seu fundador foi António Joaquim Martins Ribeiro, que veio posteriormente a fundar o Hotel Gerês-Ribeiro. É propriedade da Empresa Hoteleira do Gerês, empresa a operar também na área dos transportes e a única companhia que faz a ligação Braga-Gerês.

Hotel Termas

Propriedade da Empresa Hoteleira do Gerês, este era o Hotel Araújo, também um dos primeiros a ser construído na estância termal do Gerês. Aí funcionava o Posto de Turismo e grande parte da documentação existente importante para a história do turismo da vila desapareceu aquando de um incêndio nos anos 60.

Hotel Apartamentos Gerês Ribeiro

Também da propriedade da Empresa Hoteleira do Gerês, este, era o Hotel Ribeiro, cujo fundador foi, segundo a publicidade no Diário Ilustrado, António Joaquim Martins Ribeiro, Fundador do Grande Hotel Universal.

Hotel do Parque

Este hotel, atualmente em estado de ruína, foi um dos melhores hotéis do início do séc. XX. A sua publicidade tinha o seguinte texto:

“Este magnífico hotel, situado no melhor lugar do Gerês e construído de propósito para o fim a que se dedica, possui, além das suas comodidades e bom serviço, um excelente parque com jardim, bosques com árvores de boas sombras, cascatas, nascentes de finíssima e deliciosa água potável, grande salão recreativo, oferecendo assim aos seus hóspedes uma distração como não tem nenhum outro hotel no país…”

Este hotel pertenceu inicialmente a Vicente Paulino da Silveira, tendo passado mais tarde para a família Teixeira, em 1928 foi adquirido por um grupo de hotéis tendo fechado no início deste século.

Chalet Tait

Esta casa pertenceu a Alfredo Tait, que no ano 1887, entre 12 e 15 de outubro, albergou a comitiva real de então, numa caçada ao veado em Leonte.

Chalet Soutelinho

Atualmente Alojamento Local – Homenageia Alfredo Tait, nascido no Porto em 1847, quem mandou construir este chalet em 1882, também dono do Chalet Tait, botânico, comendador da Ordem de Santiago, que estudou o coberto vegetal do Gerês e a quem D. Carlos deu o título de Barão de Soutelinho, por os ter acolhido, na sua casa, aquando da caçada ao Gerês.

Este edifício pertenceu também ao bancário portuense Jacinto Magalhães, depois ao Conde Cabral, nos anos 70 do século passado o chalet é adquirido pelos atuais proprietários.